Indispensável ver em full screen e em HD (1080p)
Actualização: mão amiga enviou-me este link para uma história curiosíssima...
Mais uma vez aqui fica disponível uma ligação para a página daNPR Music onde poderá ouvir, em stream audio, a actuação de ontem (4ª. Feira, 19.01.10) do trio de Lee Konitz no famoso Village Vanguard de Nova Iorque, clube prestes a festejar o seu 75º. aniversário.
Outra hipótese mais prática é utilizar directamente o leitor de áudio (lá mais em baixo) e ouvir desde já essa gravação. Ainda uma terceira possibilidade, muito mais sedutora e duradoura, é fazer neste mesmo sítio (mais tarde mas ainda durante o dia de hoje) a descarga da mesma gravação mas para ficar arquivada, em melhores condições de áudio, no seu próprio computador, para ouvi-la sempre que quiser! Uma oferta que não se nega a ninguém, muito menos às NPR / WBGO que já nos habituaram a estas “mãos largas”.
O trio de Lee Konitz (sax-alto) é constituído, ainda, por Dan Tepfer (piano) e Matt Wilson (bateria) e o estilo inconfundível, misterioso e quase indecifrável de Konitz espalha-se por uma série de composições muito conhecidas (e sempre renovadas), bem como por uma improvisação de grupo sem tema prédefinido:
Vasos Comunicantes (1)
Ultimamente mais afeiçoado à música para televisão e cinema, em particular para filmes relevantes de Spike Lee, o trompetista Terence Blanchard parece ter aproveitado da melhor maneira o porfiado tecer de roupagens instrumentais para a construção de linhas temáticas insinuantes – e o certo é que Wandering Moon é bem demonstrativo de um notório salto qualitativo na sua obra discográfica.
Gravado na companhia de membros do seu grupo itinerante habitual, aos quais acrescentou, como convidados especiais, dois pesos pesados em forma impressionante – Dave Holland e Branford Marsalis –, este álbum é uma relativa surpresa para quem há muito não ouvia Blanchard neste contexto jazzístico puro.
Por um lado, porque ele se afasta resolutamente do óbvio e se aventura na criação de um álbum conceptual (vantagem do trabalho para bandas sonoras?), com peças de escrita ambiciosa e boa arquitectura instrumental; e, por outro lado, porque aproveita da melhor maneira o enorme talento dos músicos participantes.
Neste campo, o drive de Eric Harland (bateria) e, sobretudo, a excepcional contribuição do venezuelano Edward Simon (piano) – sem ignorar o brilhantismo técnico e a capacidade inventiva do próprio trompetista – são colocados ao serviço de um repertório em geral estimulante, com relevo para dois opus de grande fôlego: Joe & O e If I Could, I Would.
Menos arrojado do ponto de vista formal, o mais recente álbum [2000] de outro talentoso trompetista de Nova Orleães, Nicholas Payton, representa, mesmo assim, um passo em frente na clara e progressiva recusa de ideias repisadas.
De facto, seria surdez doentia persistir na ignorância de uma renovada postura criativa e continuar a ouvir apenas no estilo do trompetista o reflexo condicionado (naturalmente verificável, aqui e ali) de modelos como o segundo grande quinteto de Miles ou os primeiros (ainda e sempre mais estimulantes) discos de Marsalis do começo da década de 80.
Pelo contrário, abstraindo-nos mesmo da relativa «inutilidade» da utilização do cravo ou da celesta, basta avaliar sem preconceitos a existência de elementos de forte renovação tímbrica para percebermos estar perante algo de esforçadamente novo em relação ao que já nos havia habituado a obra de Payton.
Ouçam-se, ainda, as deambulações através das quais se define uma valsa swingante como Beyond The Stars, atente-se no humor latente em Captain Crunch (Meets the Cereal Killer) ou admire-se a fulgurância harmónica, o intenso cromatismo e as derivações rítmicas de uma peça tão excepcional como Blacker Black’s Revenge -- e logo parecerá evidente a atenção que Nicholas Payton está a prestar ao que se passa à sua volta.
Não me parece despropositado falar-vos agora de Greg Osby quando, a meio deste escrito, pretendo fazer a transição de um jazz claramente enraizado do ponto de vista estético nos modelos clássicos norte-americanos para outros espécimes jazzísticos formalmente mais heterodoxos.
Acontece que, sem deixar de se manter fiel às suas raízes culturais, Osby se confirma aqui, no seu último [1999] álbum The Invisible Hand, um dos músicos afro-americanos mais abertos, originais e imprevisíveis das últimas duas décadas – no caso concreto, através da forma inigualável com que subverte material temático há muito consagrado no jazz.
É o caso dos clássicos Indiana, Nature Boy ou, sobretudo, a velhinha Jitterburg Waltz – sendo esta ainda servida pela inteligente apropriação, com propósitos estéticos, de dispositivos de ordem tecnológica como a multipista –, cuja abordagem e desconstrução, plenas de invenção e frescura, resultam em uma das mais absorventes experiências musicais dos últimos tempos. Tudo isto reforçado pela consistência de originais como Ashes ou Sanctus, saídos da pena de dois veteranos incontornáveis como Andrew Hill e Jim Hall, convidados de luxo, ou pela singeleza de dois duetos impressionistas (The Watcher 1 e 2), entre saxofonista e pianista.
Passando agora a duas peças discográficas que nos chegam de bem mais perto, julgo ser aqui que o título desta crónica adquire ainda maior justificação. Na realidade, no primeiro caso – o álbum Kreutzberg Park East, da responsabilidade de Gebhard Ullmann –, comprova-se a existência, no jazz de hoje, de claras pontes atravessadas nos dois sentidos por músicos europeus e norte-americanos, já que o saxofonista e clarinetista alemão reincidiu no convite a algumas personalidades da cena downtown nova-iorquina para a formação do seu quarteto: Ellery Eskelin (sax-tenor), Drew Gress (contrabaixo) e Phil Haynes (bateria).
O resultado é um álbum brilhante, inequivocamente-jazz, pelo qual estão polvilhadas algumas reavaliações de componentes tão características como um certo balanço swingado (Blaues Lied, Those 4 R), a evocação meio transfigurada dos blues (Kreuzberg Park) mas também, em geral, o estilhaçar da linearidade formal em improvisações livres sobre esquemas e estruturas inventadas em tempo real.
Bem mais pensada e reflectida em termos de composição prévia – mas não alheia à postura free das suas inúmeras partes improvisadas –, é uma obra em forma de suite que o trompetista austríaco Franz Koglmann gravou para a sua própria editora Between The Lines, agora [2000] bem-vinda em distribuição nacional.
Obra discográfica inequivocamente europeia, cuja inspiração reside em parte substancial no romance Les Enfants Térribles de Jean Cocteau, esta peça de Koglmann é um conjunto de «cenas musicais» antecedidas de um prólogo.
Para além de constituir fonte de transmutações musicais como a que é corporizada no próprio tratamento herético de Make Believe (Jerome Kern), o álbum apresenta um conjunto de peças de carácter evocativo, ultrapassando porventura as próprias associações e analogias de Cocteau na alternância entre uma surpreendente ressonância do cinema negro dos anos 50, em Rue Montmartre, e o surpreendente mimetismo ellingtoneano de Interlude – sempre inserindo nos tempos e nos modos que a compõem uma frequente pulverização dos centros tonais e até mesmo alguns afloramentos do free de extracção europeia que lhe conferem especial carácter.
Imprescindíveis para o notável êxito da empresa são, sem dúvida, as participações do histórico britânico Tony Coe (clarinetes, saxofone-tenor), do francês Tom Varner (trompa), do norte-americano Brad Shepik (guitarra) e do austríaco Peter Herbert (contrabaixo).
___________
(1) (in DNmais, suplemento do Diário de Notícias, 13.05.2000)
Aqui têm de novo a possibilidade de ouvir mais um concerto integrado no line up do Festival de Jazz de Newport de 1959, já abordado anteriormente aqui e aqui.
Hoje a minha sugestão é a de um concerto realizado em 05.07.59 pela orquestra de Stan Kenton, em cujas estantes figuravam, entre outros, músicos como Richie Kamuca, Jack Nimitz, Bill Chase, Rolf Ericson, Don Sebesky ou o convidado especial Charlie Mariano.
Pode ler aqui desenvolvidas notas sobre a biografia e a carreira de Kenton, a composição total da orquestra e o conteúdo do próprio concerto e, mais abaixo, clicar nos leitores de áudio para ouvir, além das apresentações (com a voz inconfundível de Willis Conover a introduzir o concerto e Charlie Mariano a anunciar duas vezes It's Alright With Me), as peças então tocadas, cujo alinhamento foi o seguinte:
Foi através desta imagem simbólica que tivemos conhecimento de que chegava hoje ao fim a actividade de um conhecida publicação da blogosfera portuguesa que, intitulada Improvisos ao Sul, se dedicava há seis anos à divulgação do jazz.
Dirigido por António Branco, crítico, publicista, conferencista, que muito ajudava a espalhar a boa nova do jazz no interior profundo do país, lá para os lados do Alentejo, Improvisos ao Sul, tinha a vantagem de, para além da normal e regular actividade crítica a discos e concertos, se preocupar com a cobertura noticiosa do quotidiano da cena jazzística portuguesa, uma importante vertente que não é a vocação sistemática de outros blogs dedicados ao jazz, como por exemplo O Sítio do Jazz. Por outro lado, uma outra preocupação regular de Improvisos ao Sul, era a de promover entrevistas a músicos de jazz portugueses de todas as tendências, que assim se vêem também eles privados da importante parcela de visibilidade que essas entrevistas, conduzidas com rigor, objectividade e espírito aberto, disponibilizavam.
Fica portanto mais pobre este imenso espaço de divulgação do jazz, que é a Internet, embora Improvisos ao Sul se mantenha por assim dizer "no ar", podendo o arquivo dos seus diversos conteúdos continuar a ser consultado no seu endereço de sempre.
A boa notícia é a de que António Branco não abandona a sua actividade de divulgador e crítico, mantendo-se em actividade no Clube de Jazz do Conservatório Regional do Baixo Alentejo e colaborador da revista Jazz.pt e ainda do novo site Jazz 6/4 no qual, em conjunto com outros críticos, continua a dedicar-se à crítica de discos.
Cinco discos, três verdadeiros desarmes e dois tiros certeiros, num campeonato-jazz cada vez mais competitivo e de resultados sempre imprevisíveis. É, de facto, uma tarefa falível e, no fundo, desinteressante a simples tentativa de arrumar em prateleiras previamente etiquetadas o que hoje [2000] ocorre no jazz, no plano criativo.
Que dizer, por exemplo, do rejuvenescedor disco com que o veterano Roswell Rudd agora se saiu na Knitting Factory? Senhor de uma carreira a todos os títulos exemplar – na qual, para encurtar razões, se poderá dizer que «queimou» algumas etapas saltando directamente do dixieland para o free, sem passar pela tarimba do bebop – Rudd foi não raras vezes esquecido pela indústria discográfica, manifestou-se estudioso comprometido (mas de espírito livre e solto) das músicas que o alertaram ao longo dos anos e sempre se revelou decisivo e influente nas pesquisas instrumentais dos mais destacados e inovadores trombonistas modernos.
Regressado episodicamente aos estúdios com um novo álbum intitulado Broad Strokes, ei-lo que nele evoca mestres como Herbie Nichols, Duke Ellington ou Thelonius Monk mas também recupera trajectos antigos, como essa especial atenção pelos blues ou por outros espécimes mais ou menos heterodoxos e até marginais da música popular.
Num terreno jazzisticamente bem marcado, Rudd dirige fascinantes colectivos instrumentais ou escreve fabulosos arranjos para temas como Change of Season, a dupla All Too Soon / Way Low ou Coming on the Hudson; mas muda de temática para os inesperados Almost Blue (Elvis Costello) ou Theme for Babe (pedido emprestado a Saint-Saëns e tocado na companhia do grupo underground Sonic Youth!) para resolver, ainda, enveredar por surreais memórias em God Had a Girlfriend ou Stokey.
Enfim, nesta ecléctica viagem pelas paixões musicais de Roswell Rudd, uma palavra é ainda devida para sublinhar as episódicas mas soberanas presenças de Steve Lacy e Sheila Jordan, sem ficar indiferente às qualidades de Steve Swell, Josh Roseman, John Betsch ou Ron Finck. Um disco de pegar ou largar!
Não menos desarmante (mas por motivos totalmente diversos) é o mais recente [2000] disco de Brad Mehldau. Alternando peças em trio com peças em solo absoluto, Places revela-se uma obra contraditória e problemática numa fase crucial da carreira do notável pianista.
Parecendo-me irrelevante sublinhar a relativa solidão que experimentei em ocasiões anteriores ao procurar analisar com a possível objectividade a transcendência arrebatadora de alguns dos melhores opus de Mehldau ou a derrotante desilusão do seu primeiro disco a solo – julgo necessário avançar, desta vez, algumas claras reservas que não excluem uma continuada admiração pelas suas portentosas qualidades de invenção e técnica instrumental.
Situam-se essas reticências no plano puramente conceptual. Não tanto relativas à superficialidade que representa dar títulos evocativos de lugares e viagens a originais do pianista que (nesse preciso sentido, e ouvidos com ouvidos de ouvir) se não distinguem, no fundamental, uns dos outros; mas, sobretudo, pela reincidência, até à exaustão, nos mesmos processos de composição temática cujo modelo radica, lá mais no passado (já em 96!), nas tão fascinantes deambulações harmónicas dessa espantosa obra-prima que foi Lament For Linus.
Chamar-lhe-ão, alguns, com razão, a exuberância de uma estética própria. Mais céptico e exigente em relação às minhas próprias paixões, eu arriscaria tratar-se, ao mesmo tempo, da manifestação de alguns sintomas de crise.
Por isso, às indefinições de Brad Mehldau, prefiro neste ensejo a singela confirmação de Joey Calderazzo, um pianista directo e exuberante, cada vez mais notado pela sua insinuante presença, primeiro no grupo de Michael Brecker, agora no quarteto de Branford Marsalis.
E, para tal, apenas algumas linhas julgo serem suficientes no sentido de alertar o leitor para esta sua estreia como líder, na Columbia, marcada por uma consistência pianística (mas também composicional) não desprezível e, ainda, pela especial apropriação e integração, num estilo cada vez mais definido, das influências de Wynton, Jarrett, Hancock ou Kirkland. Quanto a John Patitucci (contrabaixo) e Jeff Watts (bateria), é «impossível» tocar mal com eles por perto!
Por falar em Branford Marsalis, aí o temos de novo, em força, agora com Contemporary Jazz, na continuação natural de Requiem, um dos melhores discos do ano passado. [1999]
Fazendo jus à cada vez maior maturidade revelada na obra gravada e nos concertos ao vivo, Branford evidencia neste álbum uma polivalência estética impressionante, uma técnica instrumental a toda a prova e, sobretudo, a consciência de que os desafios da criatividade não são favas contadas!
Nesse sentido, a constante utilização de impressionantes cambiantes polirítmicas acaba por marcar todo o disco, logo a partir de In The Crease, naquela que é uma subversão da aparente «normalidade» linear do tradicional esquema tema-variações-tema. Da mesma maneira que as transfigurações por que passa Cheek to Cheek, as calorosas referências a Ben Webster num escondido blues (Sleepy Hollow) que se segue à última faixa ou a comovente homenagem a Kenny Kirkland numa nova versão de Requiem revelam uma versatilidade expressiva cada vez mais firme.
Mas é na transcendência de Elysium ou Tain Mutiny – duas verdadeiras peças de resistência de todo o álbum – que Branford e o seu fabuloso grupo acabam por derrotar qualquer tentativa de conotação com um jazz datado ou falho de inovação. Um disco fundamental!
Como também o é Iffy, essa verdadeira rasteira pregada por Chris Speed àqueles que apenas vêem em certos pálidos representantes da downtown nova-iorquina uma série de curiosos e esotéricos excêntricos, porventura talentosos e muito dados à partitura escrita, mas lá no fundo alheios às emoções e pureza do jazz!
Ora ouça-se o impressionante e arrasador balanço com que o disco começa (A Little Odd), a energia que marca Graphic Ridiculous ou o calor emotivo de FMU e a linhagem bop de CooCoo (alusão a Koko?) – e logo se concluirá que, por entre derivações em direcção a uma espécie de drum’ n ’bass de influência balcânica e outras transgressões mais ou menos klezmer, Chris Speed se revela acima de tudo uma das mais maduras certezas do saxofone e clarinete modernos, a par da impressionante qualidade e novidade expressas por Jamie Saft no órgão e por Ben Perowsky na bateria. Um disco de mão cheia!
(1) (in DNMais, suplemento do Diário de Notícias, 16.09.2000)
Se tem passado por aqui nos últimos tempos, já sabe do que se trata: de facto, é muito fácil ouvir, em stream audio, uma série de concertos que se realizaram durante o Festival de Jazz de Newport de 1959 e cujas preciosas gravações pode encontrar no site Wolfgang’s Vault.
Hoje, proponho-lhe, por exemplo, uma das mais célebres formações do Quinteto de Horace Silver, com Blue Mitchell no trompete, Junior Cook no sax-tenor, Gene Taylor no contrabaixo e Louis Hayes na bateria, numa actuação gravada em 3 de Julho daquele ano. Independentemente de poder comprar no Wolfgang’s Vault a gravação do concerto em formato MP3 ou FLAC, poderá também ouvi-la de borla, aqui em O Sítio do Jazz.
Se optar por esta solução, já a seguir poderá ver o alinhamento do concerto e depois clicar mais abaixo nos leitores de áudio correspondentes às várias peças tocadas. Mais uma vez: divirta-se!
05. Cookin’ at the Continental
Link solidário
O Tempo das Cerejas (novo link)
Links com Jazz
Cinco Minutos de Jazz (Antena 1 - Podcast)
Dave Douglas (Artist Thoughts)
Destination-Out (Jeff Jackson, NPR MUsic)
Escola de Jazz de Torres Vedras
Escola de Jazz do Barreiro (Alunos)
Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo (ESMAE)
Jazz com brancas (Antena 2 - Podcast)
Night After Night (Steve Smith - Time Out, NY)
NPR Jazz Site (National Public Radio, EUA)
Oh não! Mais um blog sobre jazz!
Secret Society (Darcy James Argue)
Thelonius Monk Institute of Jazz